Habilidades comportamentais: Programas de MBA incluem regatas e teatro para desenvolver executivos

O artigo abaixo conta um pouco da minha experiência pessoal no MBA da Harvard Business School, o que inclui desde aulas de teatro e improvisação até o lançamento de uma linha de brinquedos para escritório (desenhados para aumentar a colaboração e o trabalho em equipe), passando pela Índia e por mais de 500 estudos de casos reais do business world.

Escrito por Nancy Campos e publicado originalmente no blog do Abilio Diniz.

Velejar, fazer ioga, montar peças de teatro e outras iniciativas inusitadas são os mais novos recursos usados pelos MBA para desenvolver as habilidades comportamentais dos executivos. “Além das competências funcionais, relacionadas à administração, os gestores precisam ter capacidade de convencimento e de assumir riscos, empatia, boa articulação com as outras áreas e talento para desenvolver as equipes”, afirma Fernando Marques, coordenador dos programas de MBA da Business School São Paulo (BSP).

Para isso, a instituição oferece um conjunto de disciplinas e workshops diferenciados. “O de espiritualidade, por exemplo, foca na consciência elevada do líder e sua função na sociedade, que não deve se limitar à empresa. O programa também inclui aulas de ioga, que ajuda o indivíduo no alinhamento físico, mental, espiritual e mental, sessões de coaching e palestras de autoconhecimento”, diz.

Até uma regata em Boston faz parte do Executive MBA da BSP, em parceria com a Universidade de Suffolk. “Ali os alunos se encontram fora da zona de conforto, no mar, um ambiente turbulento como o dos negócios. O líder e a equipe têm que tomar decisões e assumir estratégias dependendo das condições do ambiente”, descreve.

“Como a maioria não sabe velejar, um tem que ajudar o outro. Além disso, o líder deve ter uma grande capacidade de convencimento e apoio do grupo que está adquirindo conhecimento técnico em conjunto naquele momento. A experiência ajuda a trabalhar a liderança e o gerenciamento de equipe”, acrescenta.

Já a Universidade de Harvard, este ano, aliou as suas tradicionais técnicas de desenvolvimento de habilidades comportamentais – como estudos de casos, por exemplo – a uma nova experiência chamada Field.

O empreendedor brasileiro Alex Anton, de 31 anos, se surpreendeu com o programa. “Uma das atividades foi criar uma peça de teatro para ser apresentada na próxima hora. Atuamos num campo nebuloso, com pessoas desconhecidas e num curto prazo. Nunca imaginei que teatro e liderança tivessem uma relação tão direta. Este workshop foi o que mais me marcou, pelas lições que tirei sobre habilidade de improvisação, criatividade, resposta a estímulos imediatos e comunicação verbal e não-verbal”, conta.

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Anton também participou do desenvolvimento de cosméticos masculinos para a Unilever na Índia, com um grupo de seis estudantes de nacionalidades e profissões diferentes. “Aprendi a entender o consumidor que vive uma realidade diferente da minha e ser humilde para compreender seus gostos e não impor minhas vontades”.

Em outra experiência, criou com colegas uma empresa real de brinquedos para ambientes corporativos, com um pequeno orçamento da universidade. Seu principal aprendizado foi ser flexível e ao mesmo tempo conseguir impor sua opinião num grupo sem liderança ou papéis definidos.

“Terminei o MBA muito mais seguro para encarar riscos, exercer a liderança e entender pessoas diversas. Sinto-me mais bem preparado para lidar com filosofias de vida, religiões e culturas diferentes”, resume Anton, que toca atualmente um projeto profissional na Malásia. Farmacêutico bioquímico por formação, ele é proprietário da TopMBA Coaching e co-fundador do blog TransforME.

Para o coordenador do Master em Liderança e Gestão de Pessoas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), João Baptista Brandão, é importante que a metodologia do curso estimule o desenvolvimento das habilidades comportamentais, independentemente das experiências inusitadas. A instituição deve colocar os alunos para conhecer e aprender com os demais, discutir e negociar por meio de projetos inovadores, por exemplo.

Em sua percepção, os alunos em geral têm competência técnica e competência formal de negociação e relacionamento, o que é positivo. “Mas, por outro lado, apresentam pouca reflexão sobre o que querem, podem e devem realizar, bem como pouco treino em testar ideias e hipóteses novas”, observa o coordenador.

Para enriquecer as habilidades comportamentais, os executivos devem estar abertos e aproveitar o conteúdo do curso para se desenvolver tanto na esfera intrapessoal quanto interpessoal. “Se eles tiverem esta agenda, será meio caminho andado”, afirma Brandão.

*Publicado originalmente no blog do Abilio Diniz por Nancy Campos. Para quem quiser saber mais sobre as aulas de teatro, elas foram ministradas pela equipe do ARIEL GROUP.